Em 1995 após 3 anos em Portugal a trupe de Ivam Cabral volta à Curitiba onde tinha sede, mas ainda mantinha o teatro e as oficinas em Lisboa. Em 2000 o grupo retorna definitivamente para São Paulo. Eles buscavam agora um palco paulistano, um espaço onde pudessem desenvolver seus projetos. Ivam e Germano Pereira, ator catarinense que há pouco havia se juntado ao grupo, rodaram o centro de São Paulo em busca do imóvel ideal.
Depois de alguns dias de caminhadas e procura, a dupla encontrou na Praça Roosevelt um imóvel com as paredes sem pintura, o chão sem acabamento e até uma fossa aberta no meio do salão, e mesmo nessas condições deploráveis eles não titubearam e decidiram que seria ali a nova sede da Cia Satyros. Os atores da companhia que nunca fugiram do trabalho pesado pintaram as paredes, arrumaram o banheiro e limparam a casa toda. A pintura do piso foi terminada horas antes da estreia de "Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte", do espanhol Ramón del Valle-Inclán, "A gente ficava rezando para secar antes de os convidados chegarem", conta Germano.
Os Satyros sempre encontraram obstáculos em sua trajetória e não seria diferente na sua instalação na Praça Roosevelt. A limpeza e a reforma da casa foram a parte mais fácil nesse novo começo, ao chegar à Praça o grupo se deparou com a degradação daquela região, e despertaram a hostilidade de traficantes, ladrões, prostitutas e michês que dominavam a região. E era durante a noite que eles percebiam o quanto estavam incomodando, quase toda noite as luzes da Praça eram apagadas clandestinamente, a Eletropaulo era chamada para fazer a religação, mas na noite seguinte mais um apagão. A tentativa de intimidação não parou ai, a Cia recebeu ameaças por telefone de que haveria derramamento de sangue.
O grupo não cedeu aos boicotes e ameaças, permaneceu firme e ainda abriu um bar com mesas na calçada. E continuaram a estrear novos espetáculos, fizeram adaptação de "De Profundis", de Oscar Wilde. Encenaram "Antígona", de Sófocles. Montaram a peça de uma dramaturga alemã, Dea Loher, sobre os moradores da própria praça Roosevelt. Um dia, simplesmente, as luzes deixaram de ser apagadas.
Simone Amorim